Era uma vez...Uma EBD
Hoje é domingo...
O sol está alto e o dia está lindo.
Sentado neste banco, o banco de uma praça qualquer; meu
pensamento vagueia e viaja pelo tempo, me leva ao passado e faz-me recordar meu
tempo de criança. Tempo bom aquele. Lembro-me de tantas coisas, das
brincadeiras, dos amigos, lembro-me dos doces de minha mãe, e até mesmo das
surras que tomei de meu pai.
Coincidência...
Hoje é domingo. E na minha memória, a lembrança mais viva que
tenho, são daquelas manhãs de domingo, manhãs de inverno, tão frio, nós ainda
criança, gostávamos de dormir até tarde, acariciados pelo aconchego dos
cobertores e do cheirinho de café vindo da cozinha, que mamãe sempre a primeira
a levantar-se, tão cedo, se punha á fazer. Não demorava muito, ela vinha nos
tirar da cama, “era domingo”, o dia em que as outras crianças dormiam até mais
tarde, nós levantávamos cedinho. Mamãe então, arrumava nossas roupas,
cobria-nos com alguns trapos velhos, a qual chamávamos de roupa de domingo,
porque na verdade nem mesmo roupas tínhamos. Nossos sapatos, então, como era
engraçado viviam sorrindo, depois de tanto uso e diversas caminhadas já nem
comportavam mais nossos pés. Tínhamos também uma luva e um belo cachecol feitos
por mamãe, e com o qual nos vestíamos, para podermos enfrentar o frio. Ah! E o
café? O café ficava para mais tarde, tínhamos um compromisso muito importante
nas manhãs de domingo, e o café podia esperar.
Papai já com seu chapéu de palha na cabeça, calçava suas botas
tão surradas, mas, que no entanto, nunca o havia deixado na mão. Finalmente
estávamos todos prontos.
Partíamos.
A distância era longa e a caminhada difícil. Muitas vezes
olhávamos outras crianças que passava, por nós e queríamos ser como elas e
mamãe nos consolava nos dizendo que elas não tinham a oportunidade de juntar as
pedrinhas que guardávamos para as brincadeiras mais tarde. Depois de algumas
horas a estrada chegava ao fim, lá adiante avistávamos uma pequena construção,
papai ajudou a construir, era a nossa igrejinha; tão pequenina, tão simples e
humilde feita de tábuas, mas dentro dela havia um calor tão gostoso que nos
fazia esquecer do frio.
Era domingo. E no domingo o povo se reunia para ir a escolinha.
Que saudades eu tenho daquelas manhãs. Chegávamos na igrejinha,
dobrávamos os joelhos, agradecidos a Deus por estar ali, pedíamos a sua benção
para aquele novo dia e então nos sentávamos para ouvir o professor.
Lembro-me de ouvir a mamãe dizer que aquele homem tão simples,
mal sabia escrever seu nome, mas, nas manhãs de domingo vestia seu terno,
especialmente preparado para a ocasião, colocava sua gravata e virava um
doutor, não um doutor comum, porque o que nos ensinava era algo maravilhoso e
especial. Muitas das suas palavras guardo ainda na memória, como se as tivesse
ouvindo neste instante.
Era domingo.
E todos estavam na igrejinha. Todas as famílias, pais, filhos,
os irmãos, todos juntos ouvindo Deus falar.
Aprendendo a conhecer Deus.
Doce lembrança...
Após a escolinha voltávamos felizes para nossas casas, sempre
todos juntos, e ao chegar à casa, saboreávamos, então, os doces e o café que
mamãe havia deixado sobre o fogão. Eram domingos maravilhosos. Eu poderia
contar lindas histórias sobre aqueles domingos na escolinha dominical, muitas
até fariam chorar, mas ninguém as quer ouvir.
Hoje é domingo e eu aqui sentado; sentado neste banco, nem mesmo
a igreja fui.
A distância não é tão grande, o caminho é bem mais fácil e já
não preciso ir á pé, se eu fosse comparar, nem mesmo parece frio, porque tenho
tantas roupas para vestir que não sei qual usar. A igrejinha simples não existe
mais é verdade, virou tapera em algum lugar no passado. A igreja, hoje é de
pedra, hoje, é de pedra mais resistente, tem janelas, seus bancos são melhores,
é bem diferente e fato. O calor que havia naquela simples e humilde igrejinha
pode ter esfriado um pouco, mas, é porque muitos se esqueceram que hoje é
domingo.
Como eu queria estar lá com os irmãos.
Se meus filhos ao menos estivessem aqui. Por que não os ensinei
da mesma forma que meus pais me ensinaram?
Grande engano meu...
Pensei que estaria dando mais conforto a eles deixando-os dormir
até mais tarde aos domingos.
Hoje é domingo e meu filho trocou a noite pelo dia, foi dormir
quando deveria estar se levantando para ir à escolinha
Grande engano meu...
Pensei que fazendo do meu filho doutor ele aprenderia a
respeitar e amar a Deus. Hoje me chama de quadrado e se esqueceu de Deus.
Que saudades que tenho da escolinha.
Como gostaria de estar lá, naquela escolinha junto com meus
filhos, com minha família, bem como fazíamos no passado, nas manhãs de domingo.
Seria tão bom ouvir Deus falar.
Quisera eu contar minhas experiências aos mais jovens, ser
também um professor da escola bíblica dominical.
Hoje é domingo
E eu aqui neste banco a lamentar do passado e sofrendo por não
saber aproveitar quando a porta da igrejinha estava aberta aos domingos de
manhã, bem cedinho.
Quando os meus filhos nasceram eu deixei de ir a escolinha, a
qual nunca havia faltado antes, muitos seguiram meu exemplo, deixaram de ir
também, e o pastor cansou de esperar por mim.
Um dia fechou a porta da igrejinha.
E eu aqui, a lamentar...
Hoje é domingo!
E acabou-se a escolinha.
“Autor desconhecido"