Este texto é uma espécie de carta-reposta aos
questionamentos de uma pessoa cristã que foi duramente confrontada com
situações das mais diversas num ambiente pluricultural, a universidade. Além
das dúvidas existenciais, as espirituais habituais de cada pessoa, também pelas
teologias duvidosas sussurrando soluções mais fáceis e modernas ao seu ouvido. Esse
texto tem um tom mais pastoral, por isso não contém notas de rodapé, nem
grandes citações de teólogos.
Conceito
de GRAÇA
O amor de Deus está dado universalmente na cruz de
Cristo e ponto final (Jo 3.16). Agora, o que as teologias contemporâneas fazem
é isolar a graça do seu efeito. Lemos em Ef 2.8-9 que a graça gera a fé, que é
dom de Deus. Ela gera a fé, porque é um encontro entre o ser humano pecador
(afastado de Deus) com a santidade de Jesus Cristo exposta na pregação da
Palavra (Rm 10.14). No encontro pessoal com Cristo se decide o futuro eterno da
pessoa: uns para perdição, outros para salvação (Mt 25.32ss). Diante de Cristo
(no caso da sua Palavra pregada) há um duplo desfecho da história do ser
humano: os que creram, e os que permaneceram na incredulidade. Graça não muda a
forma como Deus te olha em Cristo, mas ela muda totalmente a forma como nos
relacionamos com Deus, com nós mesmos e com o próximo. Isto porque a Graça nos
tira da meritocracia.
Na graça não precisamos fazer para que Deus nos ame
mais. Não precisamos convencer Deus que somos bons e que merecemos algo.
Simplesmente Deus se alegra em nos dar tudo de graça. Agora quem foi agraciado
é transportado para uma nova relação com Deus. Deixamos nossas velhas atitudes,
nossa lógica do mérito, nossas vanglórias para viver a vida de Deus em nós (2Co
5.17). A vida que vivemos é pelo Espírito Santo (não mais segundo a vontade da carne). A ação da graça em nós é pelo
Espírito Santo produzindo dons e boas obras. A árvore boa produz bons frutos. A
mulher samaritana no encontro com Jesus teve seu pecado revelado e Jesus não
passou a mão na cabeça dela. Pontuou categoricamente o erro dela (Jo 4.18).
Também para a mulher pega em adultério Jesus não passou a mão na cabeça, sim, Ele
a perdoou, mas exigiu uma mudança (Jo 8.10). O discipulado de Jesus é exigente
sim! E nós sempre estamos em divida diante de Deus. Agora, isto não é para por
medo, de forma alguma, mas para que nós não venhamos confiar em nós mesmos, e
sim em Deus que a poderoso para perdoar e salvar.
Relação EVANGELHO e CULTURA
Parece uma discussão atual, porém é bem velha. Já
desde da época do Iluminismo esta discussão existe. Na história muitos
propuseram respostas para esta questão. Recentemente há uma corrente dizendo
que a Igreja Primitiva contém a Cultura Cristã genuína, logo ao imitarmos suas
ações e formas de existir estaremos mais perto do verdadeiro ser cristão. Nos
século II e III os novos convertidos, mal discipulados, trouxeram para dentro
da Igreja Cristã muito da sua religiosidade pagã, muitos padres acharam que era
melhor relevar algumas coisas para não perder membros, do que criticar os erros.
Desta forma se criou a fórmula adotada mais tarde pelo Concílio de Trento “vox Populi, vox Dei” (voz do Povo é a voz
de Deus”), ou seja, “aquilo que em todos os tempos e todos os lugares
sempre foi crido por todos, isto é com certeza de Deus”.
Hoje há uma profusão de teologias do genitivo. Que
são as teologias aplicadas a um contexto ou grupo: teologia negra, teologia
indígena, teologia da libertação, teologia feminista, etc. A rigor são todas
teologias da libertação (focadas para a libertação de determinados grupos sociais
da opressão da pobreza, exclusão social, etc). Agora nos últimos tempos as
teologias do genitivo se expressam contra outros tipos de opressão: política e
ideológica. Então surgem teologia queer
(homossexual), teologia da prosperidade... As características destas teologias,
é que elas estão voltadas para satisfazer as necessidades de um determinado
público alvo (por isto genitivo – oriundo
da gramática, que significa o que pertence a alguém outro. Ex: Bar do João –
“do João” é genitivo de “Bar”). Como o alvo da teologia é um grupo e não
Deus na sua revelação, então temos desvios teológicos dos mais diversos. De uma
forma geral todas estas teologias se apropriam do conceito de graça para negar
a força da Lei. Segundo eles a Lei não teria mais valor, pois foi dada para um
contexto específico que não é mais o nosso, logo, não vale mais.
Segundo eles teríamos que ver qual é a índole de
Deus. Em Cristo perceberam que Deus é amor, logo a Lei não faz mais sentido,
então pode ser relegada a um segundo plano, como algo contingente de época (uma cultura), que não se aplica mais hoje.
Teríamos que apenas aplicar princípios de amor para hoje, isto seria
interpretar corretamente o Deus de amor para hoje. Então por exemplo,
homossexualidade seria algo normal, contanto que vivida de forma sadia
(parceiro fixo, respeito, amor, etc…). Para isto é preciso anular a distinção
entre Lei e Evangelho, tão típica em Gálatas, por exemplo.
Este discurso faz muitos adeptos, pois destaca
somente o amor de Deus, e quem não deseja um Deus que só é amor, e que nunca
condena? Leonardo Boff em sua tese de doutorado escreveu que “Deus continuamente esvazia as lixeiras do
inferno”. Isto é, ninguém seria condenado por causa do amor de Deus. Todos
no final seriam salvos. Para isto é preciso eliminar todos aqueles versículos
que afirmam a condenação dos que não creem. Mas para eles isto não é difícil
fazer, pois seriam versículos da cultura da época, marcada por uma
religiosidade que ainda cria em demônios, e que era muito marcada pelo
legalismo farisaico, pela lei cerimonial, etc.
Então no exemplo do casamento, e relacionamentos
sexuais. A Bíblia não fala em cerimônia de casamento na Igreja. Porém Jesus
considera a mulher samaritana no erro (ela
vivia ajuntada), pois não tinha contrato de casamento. Para o Antigo
Testamento, de fato o sexo faz o casamento, mas o contrato, ainda que muitas
vezes não mencionado, é algo normal na sociedade. Sempre que a convenção não é
seguida a Bíblia fala em pecado. O Novo Testamento chama isto de “fornicação”
(grego pornoi – relação extraconjugal). Todo tipo de relação sexual fora do
contrato de núpcias era fornicação. Aplicando para hoje: do ponto de vista
jurídico continua necessário o contrato de casamento. O fato de a justiça
aceitar uma união estável por mais de 5 anos para fins de benefícios sociais
não faz com que pessoas ajuntadas estejam legalmente casadas, apenas garante
benefícios sociais a posteriori.
É neste sentido que alguns homossexuais registram um
contrato de convivência nos cartórios, para ter alguns direitos previdenciários
assegurados (direito de todos, e também deles, nisto não posso me opor – porém
este contrato não é um casamento!). A convenção social, a cultura ainda é de
que casamento significa contrato social. Entre cristãos, desde tempos antigos
há o costume de se pedir a benção de Deus na reunião dos crentes. Entre os
judeus isto não era assim, porque o civil e o religioso andavam juntos. Os
cristãos viviam em outro contexto, o que gerou a necessidade da benção
matrimonial. Se diante do fato de cristãos também estarem vivendo juntos antes
do contrato social, e antes da benção matrimonial nos obrigar a reconhecer isto
como correto e apenas como “mudança cultural”, logo, Vox Populi, Vox Dei,
estaremos regredindo! Ao invés de considerar a Palavra de Deus, vamos seguir
princípios não evangélicos. Para a Bíblia sexo fora do contrato de matrimonio é
fornicação, é pecado e ponto. Agora, é possível o arrependimento, a mudança, e
fazer o que é certo, isto com certeza! Este é nosso desejo.
Concluindo o assunto:
Sempre
que a graça for desvinculada do discipulado, do seguir a Cristo, da obediência,
então temos uma graça barata...
Sempre
que o pecado vira cultura, para ser legitimado, então a Palavra de Deus perde
seu sentido.
NAPEC