Versículo do Dia

sexta-feira, setembro 27, 2013

GRAÇA, Obras e Teologias Contemporâneas

 
Este texto é uma espécie de carta-reposta aos questionamentos de uma pessoa cristã que foi duramente confrontada com situações das mais diversas num ambiente pluricultural, a universidade. Além das dúvidas existenciais, as espirituais habituais de cada pessoa, também pelas teologias duvidosas sussurrando soluções mais fáceis e modernas ao seu ouvido. Esse texto tem um tom mais pastoral, por isso não contém notas de rodapé, nem grandes citações de teólogos.

Conceito de GRAÇA

O amor de Deus está dado universalmente na cruz de Cristo e ponto final (Jo 3.16). Agora, o que as teologias contemporâneas fazem é isolar a graça do seu efeito. Lemos em Ef 2.8-9 que a graça gera a fé, que é dom de Deus. Ela gera a fé, porque é um encontro entre o ser humano pecador (afastado de Deus) com a santidade de Jesus Cristo exposta na pregação da Palavra (Rm 10.14). No encontro pessoal com Cristo se decide o futuro eterno da pessoa: uns para perdição, outros para salvação (Mt 25.32ss). Diante de Cristo (no caso da sua Palavra pregada) há um duplo desfecho da história do ser humano: os que creram, e os que permaneceram na incredulidade. Graça não muda a forma como Deus te olha em Cristo, mas ela muda totalmente a forma como nos relacionamos com Deus, com nós mesmos e com o próximo. Isto porque a Graça nos tira da meritocracia.

Na graça não precisamos fazer para que Deus nos ame mais. Não precisamos convencer Deus que somos bons e que merecemos algo. Simplesmente Deus se alegra em nos dar tudo de graça. Agora quem foi agraciado é transportado para uma nova relação com Deus. Deixamos nossas velhas atitudes, nossa lógica do mérito, nossas vanglórias para viver a vida de Deus em nós (2Co 5.17). A vida que vivemos é pelo Espírito Santo (não mais segundo a vontade da carne). A ação da graça em nós é pelo Espírito Santo produzindo dons e boas obras. A árvore boa produz bons frutos. A mulher samaritana no encontro com Jesus teve seu pecado revelado e Jesus não passou a mão na cabeça dela. Pontuou categoricamente o erro dela (Jo 4.18). Também para a mulher pega em adultério Jesus não passou a mão na cabeça, sim, Ele a perdoou, mas exigiu uma mudança (Jo 8.10). O discipulado de Jesus é exigente sim! E nós sempre estamos em divida diante de Deus. Agora, isto não é para por medo, de forma alguma, mas para que nós não venhamos confiar em nós mesmos, e sim em Deus que a poderoso para perdoar e salvar.

Relação EVANGELHO e CULTURA

Parece uma discussão atual, porém é bem velha. Já desde da época do Iluminismo esta discussão existe. Na história muitos propuseram respostas para esta questão. Recentemente há uma corrente dizendo que a Igreja Primitiva contém a Cultura Cristã genuína, logo ao imitarmos suas ações e formas de existir estaremos mais perto do verdadeiro ser cristão. Nos século II e III os novos convertidos, mal discipulados, trouxeram para dentro da Igreja Cristã muito da sua religiosidade pagã, muitos padres acharam que era melhor relevar algumas coisas para não perder membros, do que criticar os erros. Desta forma se criou a fórmula adotada mais tarde pelo Concílio de Trento “vox Populi, vox Dei” (voz do Povo é a voz de Deus”), ou seja, “aquilo que em todos os tempos e todos os lugares sempre foi crido por todos, isto é com certeza de Deus”.

Hoje há uma profusão de teologias do genitivo. Que são as teologias aplicadas a um contexto ou grupo: teologia negra, teologia indígena, teologia da libertação, teologia feminista, etc. A rigor são todas teologias da libertação (focadas para a libertação de determinados grupos sociais da opressão da pobreza, exclusão social, etc). Agora nos últimos tempos as teologias do genitivo se expressam contra outros tipos de opressão: política e ideológica. Então surgem teologia queer (homossexual), teologia da prosperidade... As características destas teologias, é que elas estão voltadas para satisfazer as necessidades de um determinado público alvo (por isto genitivo – oriundo da gramática, que significa o que pertence a alguém outro. Ex: Bar do João – “do João” é genitivo de “Bar”). Como o alvo da teologia é um grupo e não Deus na sua revelação, então temos desvios teológicos dos mais diversos. De uma forma geral todas estas teologias se apropriam do conceito de graça para negar a força da Lei. Segundo eles a Lei não teria mais valor, pois foi dada para um contexto específico que não é mais o nosso, logo, não vale mais.

Segundo eles teríamos que ver qual é a índole de Deus. Em Cristo perceberam que Deus é amor, logo a Lei não faz mais sentido, então pode ser relegada a um segundo plano, como algo contingente de época (uma cultura), que não se aplica mais hoje. Teríamos que apenas aplicar princípios de amor para hoje, isto seria interpretar corretamente o Deus de amor para hoje. Então por exemplo, homossexualidade seria algo normal, contanto que vivida de forma sadia (parceiro fixo, respeito, amor, etc…). Para isto é preciso anular a distinção entre Lei e Evangelho, tão típica em Gálatas, por exemplo.

Este discurso faz muitos adeptos, pois destaca somente o amor de Deus, e quem não deseja um Deus que só é amor, e que nunca condena? Leonardo Boff em sua tese de doutorado escreveu que “Deus continuamente esvazia as lixeiras do inferno”. Isto é, ninguém seria condenado por causa do amor de Deus. Todos no final seriam salvos. Para isto é preciso eliminar todos aqueles versículos que afirmam a condenação dos que não creem. Mas para eles isto não é difícil fazer, pois seriam versículos da cultura da época, marcada por uma religiosidade que ainda cria em demônios, e que era muito marcada pelo legalismo farisaico, pela lei cerimonial, etc.

Então no exemplo do casamento, e relacionamentos sexuais. A Bíblia não fala em cerimônia de casamento na Igreja. Porém Jesus considera a mulher samaritana no erro (ela vivia ajuntada), pois não tinha contrato de casamento. Para o Antigo Testamento, de fato o sexo faz o casamento, mas o contrato, ainda que muitas vezes não mencionado, é algo normal na sociedade. Sempre que a convenção não é seguida a Bíblia fala em pecado. O Novo Testamento chama isto de “fornicação” (grego pornoi – relação extraconjugal). Todo tipo de relação sexual fora do contrato de núpcias era fornicação. Aplicando para hoje: do ponto de vista jurídico continua necessário o contrato de casamento. O fato de a justiça aceitar uma união estável por mais de 5 anos para fins de benefícios sociais não faz com que pessoas ajuntadas estejam legalmente casadas, apenas garante benefícios sociais a posteriori.

É neste sentido que alguns homossexuais registram um contrato de convivência nos cartórios, para ter alguns direitos previdenciários assegurados (direito de todos, e também deles, nisto não posso me opor – porém este contrato não é um casamento!). A convenção social, a cultura ainda é de que casamento significa contrato social. Entre cristãos, desde tempos antigos há o costume de se pedir a benção de Deus na reunião dos crentes. Entre os judeus isto não era assim, porque o civil e o religioso andavam juntos. Os cristãos viviam em outro contexto, o que gerou a necessidade da benção matrimonial. Se diante do fato de cristãos também estarem vivendo juntos antes do contrato social, e antes da benção matrimonial nos obrigar a reconhecer isto como correto e apenas como “mudança cultural”, logo, Vox Populi, Vox Dei, estaremos regredindo! Ao invés de considerar a Palavra de Deus, vamos seguir princípios não evangélicos. Para a Bíblia sexo fora do contrato de matrimonio é fornicação, é pecado e ponto. Agora, é possível o arrependimento, a mudança, e fazer o que é certo, isto com certeza! Este é nosso desejo.

Concluindo o assunto:

Sempre que a graça for desvinculada do discipulado, do seguir a Cristo, da obediência, então temos uma graça barata...

Sempre que o pecado vira cultura, para ser legitimado, então a Palavra de Deus perde seu sentido.

NAPEC


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